A Análise do Comportamento é uma disciplina científica que tem como objeto de estudo o comportamento sob uma perspectiva contextual e interacionista, tendo como unidade de análise, em nível ontogenético, a tríplice contingência.
Em uma categorização amplamente aceita, Tourinho (1999) caracteriza a Análise do Comportamento como a disciplina geral composta por três grandes eixos.
O primeiro eixo é a filosofia da ciência na qual a Análise do Comportamento é pautada, o Behaviorismo Radical, inicialmente proposto por B.F.Skinner. Se chama behaviorismo pois sustenta que o objeto de estudo é o comportamento, e é radical pois expande a noção de comportamento para além de uma resposta a um estímulo necessariamente público. No Behaviorismo Radical, o comportamento não é meramente o que é observável (a resposta), o comportamento é a atividade do organismo como um todo, interagindo com o seu ambiente, de acordo com sua história de vida. A "caixa preta" que aturdia os primeiros behavioristas foi aberta pela metodologia operante, que esclareceu a intencionalidade, e pela formulação da noção de eventos privados, que possibilitou uma interpretação comportamental sobre emoções e cognições, antes vistos como inexplicável res cogita cartesiana. O Behaviorismo Radical abandona o mecanicismo, tanto da reflexologia dos primeiros behavioristas quanto do homem-máquina da primeira geração de cognitivistas americanos, e adota um modelo causal selecionista em três níveis (filogenético, ontogenético e cultural). Além de filosofia da ciência, o Behaviorismo Radical também pode ser entendido como uma filosofia monista da mente (Lopes e Abib, 2003).
O segundo eixo é a Análise Experimental do Comportamento, que é uma ciência empírica básica. É a principal fonte de tecnologias comportamentais, e tem destrinchado procedimentos respondentes e operantes, de indivíduos e de grupos. A Análise Experimental do Comportamento produz uma vasta literatura técnica acerca da generalidade e especificidade do comportamento de diferentes organismos em determinadas circunstâncias, dentro e fora do laboratório.
O terceiro eixo é a Análise Aplicada do Comportamento, responsável pela aplicação das tecnologias oriundas do laboratório à casos práticos de intervenção social. Tem tido um êxito sem precedentes em suas aplicações em tratamentos de diversos quadros de síndromes e psicopatologias, como o autismo e o transtorno obsessivo compulsivo.
A produção de conhecimento nestes três eixos, em reciprocidade constante, cria o quadro geral da Análise do Comportamento, mesmo que, em muitos casos, cada eixo se desenvolva com relativa indepêndencia dos demais (Carvalho Neto, 2002).
Desta forma, a Análise do Comportamento é uma disciplina regida pela filosofia do Behaviorismo RADICAL que é apenas um entre vários tipos de Behaviorismo. Existem várias dezenas de outros tipos de Behaviorismos, cada um com seus pontos de encontro e desencontro com o Behaviorismo Radical. O'Donohue e Kitchener (1999) oferecem uma listagem compreensiva (e ainda assim longe de completa) dos behaviorismos do século XX em seu livro Handbook of Behaviorism.
Texto de Hernando Neves Filho
____________
Referências
Carvalho Neto, M. B. (2002). Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento Interação em Psicologia, 6 (1), 13-18 [PDF]
Lopes, C. E., & Abib, J. A. D. (2003). O Behaviorismo Radical como Filosofia da Mente Psicologia: Reflexão e Crítica, 6 (1), 85-94[PDF]
O'Donohue, W. & Kitchener, R. (1999). Handbook of behaviorism. Elsevier. USA. ISBN: 978-0-12-524190-8. [Lista de capítulos]
Tourinho, E. Z. (1999). Estudos conceituais na análise do comportamento. Temas em Psicologia da SBP, 7(3), 213-222.