Poder da Mente


Ele existe. Ontem eu tive a comprovação. Toda noite, eu entro na internet por volta de meia-noite. Antes disso, eu costumo reiniciar o computador, pois ele já está sendo usado por um período longo, com muitas janelas abertas, o que o deixa lento. Ontem, por volta das 23:10 eu estava com dor nas costas e deitei-me na minha cama para dar uma relaxada enquanto ouvia música no WMP. Tendo percebido a proximidade da hora de entrar na internet, eu PENSEI: tenho q reiniciar o computador. Cerca de dois segundos depois, o computador reiniciou, sem que eu tocasse em nada, sem eu tê-lo programado previamente. Sim, foi o poder da mente. É óbvio! Eu pensei e aconteceu!

Malditos eventos contíguos. Sempre nos deixando malucos. Qualquer tipo de resposta pode ser selecionado pela mera “coincidência” de eventos. Para o analista do comportamento, a distinção é (ou deveria ser) evidente. Eventos contingentes são aqueles produzidos pela ação do organismo; ele OPERA e modifica o ambiente, e esse ambiente retroage sobre a resposta do organismo. Assim se sustenta o comportamento operante. Eventos contíguos são aqueles que não têm relação com as respostas do organismo; eles simplesmente coincidem espaço-temporalmente com as respostas; ocorrem subsequentemente a elas. A contigüidade gera padrões comportamentais supersticiosos.

O comportamento religioso é chamado supersticioso, pois, supondo que as entidades imateriais (ou materiais dotadas de poderes místicos) são um delírio, a (não) relação entre as respostas dos religiosos e os eventos no mundo é contígua. O curioso é que o repertório se mantém por uma LONGA duração. Por que? Porque um evangélico (ou qualquer outro religioso que emite respostas religiosas com alta freqüência) passa a vida inteira respondendo a eventos contíguos?

Descartando a variável “reforço social” das pessoas que freqüentam a igreja, temos que: em alguns momentos, algo de “bom” deve ocorrer na vida dessas pessoas. E como elas estão SEMPRE respondendo, em algum momento essas respostas e as coisas “boas” vão ocorrer contiguamente. Olhemos para isso como um esquema de razão variável. Sabemos que esse esquema produz taxas altíssimas do responder. Por que estranhar que o religioso passe a vida inteira emitindo essas respostas?

Certa vez, alguém perguntou: “faz diferença pro rato eu dizer que ele foi reforçado ou que a resposta dele foi reforçada?”. Meu palpite: Nenhuma. Do mesmo modo: faz diferença para o sujeito o evento no mundo ter sido ou não produzido pela resposta que ele emitiu? Melhor ainda: ele SABE se o evento ambiental foi ou não produzido por ele mesmo? Um analista do comportamento provavelmente sabe. Nem sempre talvez. Mas pelo menos ele sabe que existem eventos que são contingentes e outros que são contíguos. Hummm... então o conceito de contigüidade serve para o analista do comportamento analisar o seu PRÓPRIO comportamento?

Para o sujeito, os eventos sempre são contingentes se causarem alguma mudança no seu repertório. Não importa se foi ele ou não que produziu o evento. Ele desconhece essa possibilidade. Então, se tudo o que altera o responder é contingente e o que NÃO altera é contíguo, qual a relevância desse termo para uma análise funcional do comportamento? Comportamento supersticioso é ou não um operante? Qual é a definição mais adequada de operante? Lacunas infinitas...


Rubilene.

Sair ou Não Sair?


Diversos autores do início do século 20 tentaram em vão, propor uma nova perspectiva dentro da Psicologia: o estudo do comportamento. Watson (1913) em seu manifesto tentou inaugurar um movimento que serviria como impulso inicial para a reforma da psicologia. Contudo, os frutos dessa empreitada acabaram gerando apenas uma nova “abordagem” do estudo psicológico, contando com uma minoria de adeptos fieis aos princípios de Watson. Sua metodologia ganhou mais espaço dentro da psicologia que a epistemologia. Psicólogos pesquisadores utilizam os métodos comportamentais para realizar suas pesquisas, entretanto, interpretam os dados sob uma ótica mentalista. O movimento falhou. Mas os preceitos da psicologia ainda precisam ser revistos e reformados. Seria o momento de tentar-se forçar novamente uma reforma? Ou seria o momento de partir para uma nova ciência, distinta e separada de fato da psicologia? O reformismo já falhou uma vez. Os “behavioristas” epistemológicos continuam sendo minoria e a perspectiva behaviorista vai de encontro à maioria dos conceitos absolutamente reconhecidos e aceitos pela população em geral (acadêmica ou não). Certo professor disse uma vez: “Cuidemos das gerações futuras para deixarmos decentes férteis”. Será tão simples? Apenas “catequizar” os jovens calouros dos cursos de psicologia? Há a alternativa do separatismo; que vantagens ela traria? Sejamos analistas do comportamento. Poderíamos conseguir estabelecer um Bacharelado em Ciências do Comportamento (Galvão, 2007), que, pela proposta original do professor Olavo, não seria uma profissão que competiria com a Psicologia. Mas vou propor que sim, que competisse. Todo “fiel” analista do comportamento acredita que possa fazer um trabalho mais eficiente que qualquer mentalista, então, suponhamos que de fato seja mais eficiente. Atualmente, quem procura um psicoterapeuta, em geral, não sabe a diferença entre uma abordagem e outra, sequer sabe que existem abordagens distintas. Todavia, se houver um tipo de “terapeuta” distinto do psicólogo, ele pode ter mais chances de ser visto como um profissional diferenciado do que trata o psicólogo. A população terá essas duas opções e poderá procurar uma ou outra aleatoriamente. Se os analistas do comportamento estiverem certos em sua abordagem do comportamento, solucionarão as demandas mais rápida e eficientemente: as respostas de “consultar o analista do comportamento” serão mais frequentemente reforçadas que as de “consultar o psicólogo”? Se sim, os analistas do comportamento perpetuaram a espécie e os psicólogos serão extintos. Bela utopia a minha, não? Não mencionei aqui o fato de que um curso que promova concorrência à profissão de outro curso já existente, provavelmente, não seria aprovado. Daí a estratégia de não se meter com o público-alvo da psicologia e ir atrás de outros “mercados”. Deixemos então que o futuro da psicologia siga seu curso na história e seja “infinito enquanto dure”?

Rubilene.

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Referências

Galvão, O. F. (2007). Bacharelado em Ciências do Comportamento: esboço de uma profissão de base transdisciplinar. Anais da 59ª Reunião Anual da SBPC. (Perdão pela referência incompleta).
Watson, J. B. (1913). Psychology as the behaviorist views it. Psychological Review, 20, 158-177.

Fortalecimento X Reforçamento


"O comportamento é a relação entre organismo e ambiente"
"O comportamento é o produto da relação entre organismo e ambiente"
"O comportamento é o modo como as pessoas agem"
"O comportamento é o que mente humana nos induz a fazer"

"Resposta é a unidade comportamental emitida pelo organismo"
"Resposta é uma instância do comportamento"
"Resposta é o que compõe uma classe comportamental"
"Resposta e comportamento são a mesma coisa"

A variedade de denfinições de "comportamento" e "resposta" dentro da Análise do Comportamento é abusivamente vasta. E ninguém (ou poucos) está se importando em resolver esse problema. Sim, é um problema. Cada um usa a definição que bem entende, e cada um acaba falando sobre coisas diferentes e discutindo inutilmente sobre algo do qual não partilham o mesmo conceito.


Afinal, o que reforçamos? A resposta ou o comportamento? Os alunos são ensinados que comportamento é uma classe de respostas, e que a classe é reforçada, logo o comportamento é reforçado. Mas então, uma outra concepção afirma que comportamento é a relação entre organismo e ambiente, e que a resposta é reforçada, não o comportamento. Em alguns momentos, lemos/ouvimos também o termo "fortalecimento" como sendo sinônimo de "reforçamento". São sinônimos?


Qual a etimologia dessas palavras? Reforço, por definição analítico-comportamental, é o aumento da probabilidade de ocorrência futura da resposta ou do comportamento reforçado(a). E fortalecimento? A mesma coisa. Contudo, é usada mais frequentemente junto à palavra resposta: "fortalecimento da resposta".

Originalmente, "reforçamento" não significa "aumento de probabilidade", é apenas o ato de intensificar, de tornar mais forte, algo que já existe. Isso por meio do acréscimo de algo. Acrescentar algo que aumente a força gera um "reforçamento".

E fortalecimento? Quando algo fica mais forte, há um fortalecimento.

E se pudéssemos dizer que a resposta é fortalecida e o comportamento reforçado? A relação entre o organismo e o ambiente precisa de uma reexposição, isto é de um reforço para se manter estável. E a resposta não é reforçada, pois não é uma relação, é um evento.

Isso talvez refinasse a distinção das nomenclaturas, mas causaria um novo problema: o comportamento seria sempre reforçado. E a resposta (ou a classe de respostas) poderia ser fortalecida ou enfraquecida (suprimida, punida... isso gera outro tópico).

O Comportamento seria sempre reforçado? Poderiamos dizer que tanto a estimulação "recompensadora" quanto a "aversiva" são reforçadas com a reexposição às contingências?


Skinner tentou elaborar uma taxonomia específica para suas propostas terminológicas. Contudo, elas ficaram com algumas falhas, o que deu margem para toda essa variação de definições. Talvez seja hora de reformular tudo. De novo. Outra vez. Novamente. Quem sabe assim consigamos desenvolver uma "estrutura" que possa mais discriminável no controle das respostas dos próprios analistas do comportamento?


Rubilene.

Ciência X Senso Comum

A ciência nunca vai se tornar senso comum.

Ciência é uma forma de interpretar a realidade que pressupõe a previsão e o controle do seu objeto de estudo.
O senso comum não atende a essas propriedades, é um conhecimento que não utiliza metodologia sistemática e não se apóia em dados empíricos na construção de suas constatações. Difere da religião por não se remeter a entidades imateriais e/ou sobrenaturais na explicação dos fatos da realidade. Difere da arte porque não codifica a realidade em linguagem representativa.

Todas as formas de conhecimento/interpretação do mundo são comportamentos. A ciência por si mesma não existe, nem a arte, nem a religião e nem o senso comum. Tanto a ciência quanto o senso comum só existem quando alguém responde cientificamente ou por senso comum. Existe um fazer científico, um conjunto de comportamentos de diversos organismos, ou mesmo de um único, desde que atenda ao pressuposto de previsão e controle. No entanto, vale ressaltar que a previsão e controle somente são possíveis quando as relações causais entre as variáveis são conhecidas. No senso comum, as variáveis não são conhecidas, e as variáveis ambientais que afetam o responder dos organismos são outras.

Por exemplo, tenho uma amiga, não acadêmica, que certa vez me disse que nao podia ir tomar banho porque tinha acabado de comer bolo com refrigerante. Quando lhe indaguei o motivo desse comportamento, ela respondeu "sei lá, minha mãe sempre diz pra não entrar na piscina depois de comer". No caso dela, a variável de controle do seu responder era uma regra mantida socialmente, mas ela não fazia idéia de quais eram as variáveis aversivas relacionadas a "entrar na piscina depois de comer". Supôs ela, que a variável crítica era a água, portanto não podia também tomar banho após comer, e provavelmente ela também não andaria sob chuva após comer. Esse comportamento é de senso comum, porque não se conhece as variáveis de controle. Todavia, expliquei a ela qual era o problema em entrar na piscina depois de comer. O problema não é a água, mas sim a atividade física que pode concorrer com a atividade digestiva e concentrar demais o fluxo sangüíneo em áreas distantes do cérebro e prejudicar a oxigenação deste, podendo causar até um desmaio. Desmaiar na piscina não é muito aconselhável, principalmente se ninguém o estiver observando. Esse é o perigo de entrar na água após comer. Agora ela conhece a relação causal entre os eventos, então se ela não entra na piscina porque assim ela pode evitar um desmaio em função da complicação do fluxo sangüíneo, isso será um comportamento científico.


Ciência e Senso Comum não são COISAS, com existência própria, são comportamentos. O cientista é aquele que responde a relações causais e é capaz de identificá-las. O senso comum não pode identificar as variáveis. São coisas distintas e uma não pode se tornar outra. Se toda a população começa a responder como os "cientistas", há duas possibilidades: ou eles são capazes de identificar as variáveis e, portanto, estão todos respondendo cientificamente, ou então respondem por tradições culturais mantidas por contingências sociais e não são capazes de identificar as relações causais, continuam vendo o mundo pelo senso comum. Os comportamentos não são coisas. As topografias das respostas do senso comum e da ciência podem ser idênticas, mas não é o mesmo comportamento. A ciência não pode se tornar senso comum porque o comportamento do senso comum não é o mesmo do científico, ainda que as topografias sejam iguais. As respostas podem ser iguais, mas se relacionam de modo diferente com o ambiente.


Rubilene.