"Procura o que escrever, não como escrever" (Lucius Annaeus Seneca 4 a.C - 56 d.C)
A leitura de uma obra de Sêneca (celebrado filósofo romano que flerta com um paradóxo eclético entre estoicismo e epicurismo), numa sexta feira a noite, me fez atentar para algumas análises de contingências muito acertadas feitas em uma de suas epístolas à Lucílio.
Em "Da futilidade das meias-medidas", Sêneca prescreve:
Belíssimo! Quem "está presente" está em contato direto com as contingências, "à distância" só restam as descrições de contingências. Um conselho deve ser deliberado no "momento da ação", ou seja, levando em conta o contexto em que o comportamento de quem recebe o conselho ocorre. Mas a análise é mais certeira, Sêneca segue:
Assim se programa uma contingência.
Mais adiante, Sêneca observa alguns fatos de forma curiosamente atraente:
O ódio relatado é inegavelmente parte do fenômeno. O "ódio" pode ser uma condição corporal relatável, criada por uma comunidade verbal, a partir de uma determinada história ontogenética de observação ao próprio corpo. O sentimento completo, é o próprio comportamento. O verdadeiro sentimento é a "briga", o "ódio" é sua descrição.
Ainda na mesma epístola, Sêneca comenta um dos efeitos indesejáveis do controle por contingências de reforçamento:
O controle por contingências de reforçamento, diferentemente do controle aversivo, dificilmente gera contracontrole. Por mais politicamente aceitável que sejam, nem todas as contingências de reforçamento positivo são indiscutivelmente benéficas. Vícios, manias e dependências são efeitos de reforçamento positivo. Em tom semelhante, e em outra obra tratando do mesmo tema, Sêneca deixou uma de suas mais famosas frases:
Muito mais pode ser dito, e muito mais se segue. Mas vou deixar isso pro domingo.
A leitura de uma obra de Sêneca (celebrado filósofo romano que flerta com um paradóxo eclético entre estoicismo e epicurismo), numa sexta feira a noite, me fez atentar para algumas análises de contingências muito acertadas feitas em uma de suas epístolas à Lucílio.
Em "Da futilidade das meias-medidas", Sêneca prescreve:
"Certas coisas só se mostram para quem está presente [...] ninguém pode aconselhar à distância: deve-se deliberar no momento da ação."
Belíssimo! Quem "está presente" está em contato direto com as contingências, "à distância" só restam as descrições de contingências. Um conselho deve ser deliberado no "momento da ação", ou seja, levando em conta o contexto em que o comportamento de quem recebe o conselho ocorre. Mas a análise é mais certeira, Sêneca segue:
"Não basta estar presente, mas permanecer vigilante e observar a ocasião propícia."
Assim se programa uma contingência.
Mais adiante, Sêneca observa alguns fatos de forma curiosamente atraente:
"Assim, queixam-se da ambição como de suas amantes, isto é, se olhares o seu verdadeiro sentimento, verás que não as odeiam, apenas brigam com elas."
O ódio relatado é inegavelmente parte do fenômeno. O "ódio" pode ser uma condição corporal relatável, criada por uma comunidade verbal, a partir de uma determinada história ontogenética de observação ao próprio corpo. O sentimento completo, é o próprio comportamento. O verdadeiro sentimento é a "briga", o "ódio" é sua descrição.
Ainda na mesma epístola, Sêneca comenta um dos efeitos indesejáveis do controle por contingências de reforçamento:
"... poucos são presos pela servidão, muitos se deixam prender por ela"
O controle por contingências de reforçamento, diferentemente do controle aversivo, dificilmente gera contracontrole. Por mais politicamente aceitável que sejam, nem todas as contingências de reforçamento positivo são indiscutivelmente benéficas. Vícios, manias e dependências são efeitos de reforçamento positivo. Em tom semelhante, e em outra obra tratando do mesmo tema, Sêneca deixou uma de suas mais famosas frases:
"A religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira, pelo sábio como falsa, e pelos governantes como útil."
Muito mais pode ser dito, e muito mais se segue. Mas vou deixar isso pro domingo.